GENEBRA — A França vive um "recrudescimento notório do racismo", indicaram nesta quarta-feira em Genebra especialistas do Comitê para a Eliminação da Discriminação Racial da ONU (Cerd), ao examinarem a política para as minorias desse país.
O país vive um "recrudescimento notório do racismo e da xenofobia", destacou o especialista togolês, Ewomsan Kokou, durante um intenso debate de mais de duas horas.
Para o relator americano Pierre-Richard Prosper, a razão para isso é a falta de "vontade política".
Os especialistas tocaram em todos os temas da atualidade, desde o tratamento dos ciganos até o recente debate sobre identidade nacional, passando pelo não reconhecimento do direito das minorias na legislação e pelo endurecimento do discurso político.
Quanto aos ciganos, alguns especialistas denunciaram o sistema de atribuição de vistos de circulação, e o fato de o direito ao voto estar condicionado a residir vários meses no mesmo município.
"O carnê de circulação nos espanta, nos lembra da época de Pétain", o marechal que na Segunda Guerra Mundial liderou na França um regime pró-nazista, disse o especialista nigeriano Waliakoye Saidou.
Em julho, o governo francês comprometeu-se também a desmantelar no prazo de três meses a metade dos acampamentos ilegais de ciganos.
O especialista turco surpreendeu-se com a ideia de "francês de origem estrangeira", utilizada no mês passado pelo presidente Nicolas Sarkozy, que propôs que a nacionalidade francesa possa "ser retirada de qualquer pessoa de origem estrangeira que voluntariamente tenha atentado contra a vida de um policial ou de uma autoridade pública".
"Não entendo o que é um 'francês de origem estrangeira'", e "me pergunto se isso é compatível com a Constituição", questionou Gun Kut.
Em resumo, os especialistas, que esperam na quinta-feira a resposta da França antes de formular suas recomendações, consideraram que os resultados não estavam à altura dos esforços empreendidos.
A França apresentou nesta quarta-feira um relatório de 90 páginas com as medidas tomadas pelas autoridades para lutar contra a discriminação, já que a última análise do Cerd foi em 2005.
"Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade. Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição."
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