Dois homens ou duas mulheres, que fazem um casal, pretendem adotar uma criança que um casal heterossexual deixou "na rua". A notícia estava estampada no jornal, enquanto o locutor de rádio, em seu comentário, descarrega que isso "é o fim dos tempos", "quem será o papai e a mamãe?", seguido de julgamentos na mesma linha; uma professora sugere para um aluno adolescente, na frente da turma, que pare os "trejeitos" afeminados e vá "virar homem". Os casos de homofobia, em aversão à homossexualidade, aconteceram em Limoeiro e atiçaram a indignação de grupos de apoio aos gays, que três anos após a aprovação de uma lei municipal seguem na campanha contra a discriminação.
O preconceito contra gays e lésbicas é recorrente em qualquer parte do mundo, a diferença tem sido na resposta às situações "constrangedoras": reivindicação de direitos. A Associação de Apoio aos Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transgêneros (AAGLBTT), decidiu pregar nas ruas um cartaz com a maior de suas conquistas até agora: Lei Municipal 1.334, de 2007, "veda a discriminação sexual em Limoeiro do Norte", e institui o Dia Municipal da Consciência Homossexual, sempre no primeiro sábado do mês de julho. São raros os municípios brasileiros com uma lei desse gênero, mas entre o dever e o direito há uma enorme brecha: falta de respeito. A Câmara Municipal de Limoeiro deu direito à AAGLBT de se considerar uma ONG legítima para defender a causa que prega.
"Não queremos que as pessoas façam mais do que o que fariam com qualquer outro sujeito, que respeitem, não se incomodem com a vida alheia, e que somos normais. Numa palestra que dei havia um grupo homofóbico, perguntei porque se incomodavam tanto comigo, é essa bolsa chique que tenho e saio rebolando? Saiam do armário, gritem, façam o que estou fazendo, que é ser feliz. A liberdade e a felicidade incomoda as pessoas. O homossexual é feliz. As pessoas que se sentem incomodadas viram homofóbicas", afirma o cabeleireiro Arízio Barros, presidente da AAGLBTT. Para ele, a "saída do armário" é uma condição subjetiva: "cada um sabe a vida que tem, e anunciar sua homossexualidade é uma decisão individual".
Direito sexual
O militante gosta de falar mais em "direito sexual", usando o critério de que ninguém é orientado à afetividade heterossexual ou homossexual. "A gente nasce assim", completa.
A lei 1.334 foi pregada em escolas, faculdades e repartições públicas e comerciais de Limoeiro. Em alguns casos, após ser pregado o cartaz o dono do estabelecimento retirava. A AAGLBTT tem acompanhado casos de denúncias de homofobia na região jaguaribana. De acordo com Arízio Barros, em 2009 um travesti foi morto por três adolescentes; em Morada Nova, um homem foi morto dois dias após ter anunciado sua homossexualidade. "Esses casos se repetem", lamenta Arízio.
A Associação dos Gays, Lesbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais de Limoeiro existe há cinco anos e possui 238 associados no Vale do Jaguaribe, sendo 183 de Limoeiro. Cada membro tem direito a 20 preservativos, repassados mensalmente pela associação, que tem o apoio da Secretaria Municipal da Saúde. "A primeira-dama Célia Costa Lima é nossa madrinha, pois tem dado forte apoio a todas as nossas atividades", ressalta Arízio. No primeiro sábado de julho, quando se comemorou o dia da consciência homossexual, foram homenageados o artista plástico Márcio (depois Márcia) Mendonça (em memória), e o umbandista José de Etelvina, o primeiro limoeirense a se assumir gay, na conservadora Limoeiro dos anos 60.
Todos os anos, a Associação participa de eventos sociais, fazendo doação de cestas básicas, prestando serviços como corte de cabelo e entretenimento com palhaços. Os casos de homofobia relatados no início da reportagem são acompanhados pelos militantes. A professora e a escola em que houve a agressão verbal a um estudante receberão a visita do Conselho Estadual de Educação, que acolheu a denúncia da AAGLBTT.
Fonte: Diário do Nordeste
http://www.radiocaicara.com/novoportal/index.php?option=com_content&view=article&id=6390:limoeiro-do-norte&catid=30:noticias-regionais&Itemid=58
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